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Prevalência de transtornos relacionados ao uso de álcool antes e após cirurgia bariátrica

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Com o aumento dos casos de obesidade nos Estados Unidos, a cirurgia bariátrica tem se tornado um procedimento cada vez mais comum, sendo considerada hoje o tratamento mais eficaz e durador para casos de obesidade mórbida. Embora a cirurgia diminua a mortalidade desses pacientes a longo prazo e com baixa incidência de efeitos adversos a curto prazo, há relatos na literatura de que esse procedimento estaria relacionado a um aumento de risco para desenvolvimento de transtornos relacionados ao uso do álcool (TRA), ou seja, abuso ou dependência.

Assim sendo, uma pesquisa foi realizada para verificar a incidência de TRA antes e depois desse procedimento e os possíveis fatores associados ao desenvolvimento e/ou o agravo de problemas com o álcool em pacientes pós-operatório. O estudo longitudinal avaliou 1.945 adultos de ambos os sexos que passariam pela primeira vez por algum tipo de cirurgia bariátrica entre os anos de 2006 e 2009. 

Para determinar a prevalência de TRA, o presente estudo analisou: 1) resultados do Teste de Identificação de Transtornos Relacionados ao Uso do Álcool (AUDIT, na sigla em inglês), 2) resposta positiva para uso nocivo de álcool (consumo típico de três ou mais doses por ocasião ou consumo frequente de seis ou mais doses por ocasião) e 3) sintomas de dependência do álcool (p. ex: dificuldade de parar de beber após ter começado ou beber além do planejado, e fracasso em cumprir atividades devido ao uso) e problemas relacionados à bebida (p. ex: “blackouts alcoólicos”, sentimento de culpa, machucar ou prejudicar outras pessoas, preocupação de terceiros com relação ao uso). 

Os resultados mostraram que, no geral, o número de doses de álcool consumidas em um dia típico de consumo foi significativamente maior no ano anterior e em dois anos após que no primeiro ano de pós-operatório. O consumo nocivo foi significativamente mais comum antes da cirurgia (19,6%); no entanto, nota-se um aumento significativo nesse padrão de uso entre o primeiro e o segundo ano posterior à cirurgia (13,3% e 16,5%, respectivamente). 

A prevalência de TRA não diferiu entre o ano anterior à cirurgia e o ano seguinte (7,6% e 7,3%, respectivamente), mas foi significativamente maior no segundo ano pós-operatório (9,6%). 

Mais da metade dos indivíduos que apresentaram diagnóstico de TRA no pré-operatório mantiveram os sintomas nos primeiros dois anos pós-operatórios. Em contrapartida, aproximadamente 8% dos que não possuíam TRA no pré-operatório, passaram a apresentar no pós-operatório. Ainda, entre os indivíduos que apresentaram TRA no pós-operatório, mais da metade (60,5%) não possuía os sintomas no pré-operatório, ou seja, desenvolveram o problema após a cirurgia. 

A pesquisa também revelou que o perfil do paciente que está mais propenso a desenvolver TRA após cirurgia bariátrica é do sexo masculino, jovem, fumante, que consome álcool regularmente (duas ou mais doses na semana), que faz uso recreativo de outras drogas e que foi submetido ao By-pass gástrico em Y de Roux.

Em suma, os autores enfatizam a importância do cuidado com pacientes que se submetem à cirurgia bariátrica. Independente do histórico de uso de álcool, os pesquisadores sugerem que a equipe médica informe seus pacientes quanto aos potenciais efeitos da cirurgia bariátrica para o aumento de TRA, em particular o By-pass gástrico em Y de Roux (tipo mais comum de cirurgia dessa natureza). Ademais, recomendam que o uso de álcool seja sempre avaliado e, se necessário, o encaminhamento para um serviço especializado deve ser oferecido como parte dos cuidados pré e pós-operatório de rotina clínica. 


Título em inglês: Prevalence of Alcohol Use Disorders Before and After Bariatric Surgery
Autores: King WC, Chen JY, Mitchell JE, Kalarchian MA, Steffen KJ, Engel SG, Courcoulas AP, Pories WJ, Yanovski SZ
Fonte: JAMA. 2012 Jun 20;307(23):2516-25
IF: 30 (2011)

 

Autor

Dra Thaysa Gazotto Neves

Dra Thaysa Gazotto Neves

Psiquiatra

Especialização em Terapia Cognitivo Comportamental em Dependência Química no(a) UNIFESP.